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aula magna

O Brasil poderia ter sido um exemplo para o mundo

no combate à pandemia da Covid-19

Palestrante: Marcia Castro

Debatedor: Gonzalo Vecina

Desigualdades sociais a vencer

Em um cenário político polarizado, as questões de desigualdade social podem frear o sucesso da implantação e melhoria dos sistemas de saúde. Em uma brilhante aula magna, especialistas da área trazem importantes avaliações para a transposição dos inúmeros percalços enraizados na cultura brasileira

Em sua exposição, Marcia Castro, chefe de departamento de Saúde Global e População na Faculdade de Saúde Pública da Harvard University, ressaltou a questão da infodemia, que significa a disseminação informações falsas através das redes socias aliadas às teorias da conspiração. “Tivemos casos de periódicos importantes como o The Lancet e o New England Journal que tiveram que retirar artigos publicado porque a origem dos dados não pode ser comprovada”, revelou, complementando que também existe informações falsas espalhadas pelos próprios governos mundiais, dificultando a implementação e a adesão às estratégias em relação ao combate às epidemias.

Entre suas colocações, Márcia observou que, no Brasil, três quartos da população dependem exclusivamente do SUS. Um dado recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diz que 60% população brasileira está acima do peso e que isso é um padrão principalmente entre os idosos. “Uma comorbidade que merece atenção. Se imaginarmos o que pode ser o cenário pós-pandemia em que temos o aumento das desigualdades [no Brasil], da demanda por saúde mental e das sequelas do coronavírus, o país vai precisar responder a isso e a única solução será através do SUS ". Outro ponto levantado por ela foi em relação à extrema polarização vivida pela sociedade onde as medidas de saúde pública passaram a ser questões políticas e ideológicas. “Isso cria barreiras à adesão às medidas sanitárias de controle adequadas", explica Marcia

Na aula proferida por Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), a desigualdade social foi o ponto de partida para reflexões de caráter histórico. Vecina se disse surpreendido pela live de um psiquiatra carioca que havia assistido recentemente em que ele retratava os primórdios da humanidade, a cerca de 10 mil anos atrás até 1888, onde as pessoas acham absolutamente normal a existência da escravidão, sendo o Brasil o último país do mundo a acabar com a escravidão. “A escravidão acabou formalmente, mas nós sabemos que ainda existem modelos análogos a isto no mundo inteiro e também no Brasil. Para nós, parece que a desigualdade social faz parte do viver e que a sociedade já a normalizou”. Em tom propositivo, o professor disse que a erradicação da desigualdade no país tem que ser da vontade da sociedade brasileira que, inevitavelmente, terá que se encontrar com as políticas públicas. “Durante esta pandemia [de Covid-19],

a desigualdade social matou mais negros e mais pobres do que matou brancos. Temos que cobrar definições sobre as ações que devem ser realizadas pelo Estado para que a desigualdade deixe de ser esse cancro que nós temos aqui.”, pontua.

Outro fator aventado por Vecina foi a questão do Sistema Único de Saúde (SUS) que, entre várias demandas, precisa revisitar as maneiras de atuação das indústrias farmacêuticas e também se reestruturar na questão do manejo com as vacinas. “Vejam o que acontece entre a Bio-Manguinhos e o Instituto Butantan. Está havendo uma competição em vez de uma cooperação. Isso é falta de política pública, uma vergonha a situação das vacinas aqui no Brasil”, ratificou, justificando que a polarização política é o cerne das desavenças onde manipulações de opinião impostas à sociedade interferem negativamente por falta de reais lideranças do governo federal que façam jus aos seus títulos. “A inexistência de Ministro da Saúde e de programas de comunicação nacionais são gravíssimas. Estamos brincando com fogo e deixando essa situação continuar da forma em que está ocorrendo aqui no Brasil”, adverte.

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