Tecnologia e saúde para quem precisa e quando precisa
O papel das pesquisas clínicas na saúde do paciente
No segundo painel de discussões do Global Forum de quinta-feira, a discussão fundamental foi como a tecnologia pode ajudar a levar saúde para quem precisa, quando precisa. O debate foi moderado pelo jornalista Kaike Nanne e contou com a presença de Fábio Franke, da Aliança Pesquisa Clínica Brasil; Roger Miyake, da Bristol; Leandro Reis Tavares, vice-presidente na Rede D’Or São Luiz; Antônio Carlos da Silva, da Roche; Rafael Laurino, advogado e gerente geral na Termo Fisher Scientific Brasil e da deputada federal Silvia Cristina, que abriu as discussões.
A deputada ressaltou a importância do investimento em pesquisa para ofertar medicamentos eficazes e se dispôs a levar sugestões para Câmara. Fazendo coro com Fábio, que ressaltou que nada é mais relevante do que a pesquisa clínica para quem precisa de acesso. “Temos o dever como cidadãos de brigar pelos direitos dos pacientes”, declarou.
Já Antônio Carlos acrescentou que a tecnologia de saúde é a oportunidade de reescrever os livros de medicina e que esse é um tema importantíssimo. Precisamos mudar do pensamento de só ofertar “acesso” e passar a ofertar “desfechos”.
“Tudo começa com a pesquisa clínica. Não só trabalhar com dados de segurança, mas também com os dados de acesso e pensar que Brasil queremos, do ponto de vista regulatório” acrescentou Rafael.
Precisamos pensar de que formas a incorporação tecnológica pode ser alcançada e existem muitas histórias de êxito no mundo, mas precisamos trabalhar para deixarmos de ser o 24º país no ranking de destino para pesquisas clínicas mundiais. Esse cenário impacta no desenvolvimento do nosso sistema, na esperança para milhares de pacientes e também em investimentos que o Brasil deixa de receber.
O Brasil sedia menos pesquisas por falta de previsibilidade, por dificuldade em estabelecer um prazo e morosidade. “Se acelerarmos o processo, por exemplo não tendo necessidade de aprovação em dois comitês, um nacional e outro regional, vamos deixar o Brasil mais atrativo para receber pesquisas clínicas, já que nossa estrutura de centros e de profissionais já é excelente”, informa Fábio.
Há 7 anos tramita um projeto de lei para garantir direitos aos pacientes e segurança jurídica para a indústria e para os pesquisadores. A Lei 7082 será votada ainda esse mês, garantiu a deputada Silvia Cristina, que acredita que o projeto será aprovado pela maioria do parlamento, sem muitas emendas que o prejudique.
A experiência brasileira com pesquisa clínica
O Brasil possui uma população diversa, o que é muito bom para os ensaios e centros e profissionais de saúde preparados para conduzir esses estudos de forma competente. O dr. Leandro citou como exemplo um estudo conduzido logo no início da pandemia sobre a segurança no uso de um anti-hipertensivo durante a pandemia e, em apenas 4 meses, foi realizado um estudo multicêntrico, com 10 mil pacientes, tão importante que abriu o maior congresso de cardiologia no mundo.
A medicina personalizada é mais cara?
Kaike Nane ressaltou justamente a visão de que uma medicina personalizada já é vista com inacessível, mas ela não inclui apenas medicamentos, mas também testes genéticos preditivos que podem definir o uso mais eficiente de determinado medicamento, evitando o gasto com drogas sem efeito para aquele indivíduo.
Sem a medicina personalizada, muitos tratamentos ineficazes são empreendidos aumentando o desperdício. “Quando praticamos a medicina personalizada pensamos em utilizar o medicamento correto, no paciente correto e na hora correta”, comenta Roger.
Mas para isso também é necessário repensar o sistema de pagamentos brasileiro, porque ele não está adequado para a medicina personalizada, pois parte do pressuposto de um modelo que atenda a todos igualmente. Então, como bem ilustrou Kaike “já temos profissionais do século 21, mas com sistema de pagamentos do século 20 e em um sistema regulatório que nos puxa para o século 19!”.