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saúde populacional

Tendências na gestão de saúde para o enfrentamento

das doenças cardiovasculares

Moderador: Gonzalo Vecina

Debatedores: Denizar Vianna e Erno Harzheim

 

A saúde da população no centro do cuidado

Considerações sobre o enfrentamento dos múltiplos fatores que podem conduzir às doenças cardiovasculares, foram feitas por especialistas da área da saúde que traçaram um detalhado panorama sobre o tema

As reflexões de Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), abriram o simpósio com colocações acerca das dificuldades vividas no período, principalmente impostas pela pandemia de Covid-19 no enfrentamento dos desafios da saúde pública do Brasil e no mundo. O professor e também, moderador do debate, ao comentar sobre o surgimento de novas tendências na área da saúde, classificou o termo ‘saúde populacional’ como uma moda que possivelmente ficará dizendo que já estão sendo trabalhados fatores como os riscos de adoecimento dentro de um processo relativamente sofisticado de coleta e análise de dados. “Os componentes da saúde populacional de alguma forma estão presentes e os articulamos de uma forma diferente atualmente. Essa epidemia, por exemplo, levantou uma questão bastante presente no Brasil que é a desigualdade social. Temos que olhar para isso como um componente vital da piora dos riscos que temos de adoecer”, observou.

Ao mencionar um recorte referente à cidade de São Paulo, Vecina cita que para cada mil nascidos no bairro de Pinheiros, apenas três tem chances de morte e, se comparado ao bairro de Engenheiro Marsilac, no extremo sul da capital, a chance de morte sobe para 24. “A expectativa de vida para os moradores do bairro de Moema que, em média, é de 80 anos, e se avaliarmos o mesmo quesito para o bairro de Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade, essa média baixa para 54 anos”, apontou. Outros pontos levantados pelo professor estão ligados à crise provocada pelo coronavírus, onde descobriu-se que ele é mais letal de acordo com as variações ambientais e também, sobre a ocorrência de síndromes cardiovasculares ao longo da epidemia. “Cerca de 10% a 12% dos pacientes que desenvolveram as formas mais graves de internação provocadas por esta doença, tiveram eventos cardiológicos muito importantes, inclusive entre atletas”, comentou.

De acordo com Vecina, os índices de obesidade na população brasileira cresceram de forma preocupante, onde 60% dos adultos com mais de 20 anos são consideradas obesos ou têm sobrepeso, sendo este, um componente crítico das doenças cardiovasculares. “Associado ao fato de 15% a 20% da população ser hipertensa e 10% ser diabética, temos uma combinação explosiva para alimentar os males cardiovasculares”.

Em seguida, Denizar Viana, professor da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ, médico e ex-secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, prosseguiu a explanação apresentando um estudo sobre doenças cardiovasculares de 2016, especificamente no período que compreende 1990 a 2016 e que se relaciona à incidência de enfermidades na população, onde as doenças infecciosas como a diarreia eram mais comuns em 1990 e já em 2016, ocupando a primeira posição, encontra-se a doença cardíaca isquêmica. “No mundo ocidental, quando olhamos as causas de doenças não transmissíveis e crônicas, a doença cardiovascular ocupa o topo em termos de mortalidade”, expôs.

Segundo Viana, ao lidar com doenças crônicas, há de se considerar o caráter multifatorial inerente a elas, bem como fatores de riscos ligados à saúde e de estratificação social. Foram elencados diversos fatores de risco que diferem entre si de acordo com o gênero. “Para homens, o alcoolismo aparece no topo, seguido de hipertensão sistólica, má nutrição, peso inadequado e o tabagismo. No caso das mulheres, a primeira posição é ocupada pelo excesso de peso, seguido por hipertensão arterial, dieta inadequada, glicemia elevada e tabagismo”. Após identificar esses fatores de risco, conforme Viana, é preciso ter uma política não só de prevenção e promoção da saúde, mas também de atuação junto aos pacientes que já apresentam alguns destes fatores de risco.

 

Ao iniciar sua apresentação, Erno Harzheim, gestor de atenção primária à saúde na rede de clínicas Salute e ex-secretário de atenção primária do Ministério da Saúde, se referiu ao conceito de saúde populacional como o conhecimento sobre o perfil de risco da população, com a estratificação e destinação das intervenções necessárias a cada um dos grupos de risco a fim de mitigar e otimizar o impacto na saúde global em seus mais diversos procedimentos. “O locus de atuação mais adequado para se trabalhar esses fatores de risco é na atenção primária. Não tem nenhuma dificuldade em se trabalhar isso na saúde pública, desde que esteja fortalecida e haja as devidas condições estruturais para isso. Não podemos chamar um buraco de Unidade Básica de Saúde que, na minha visão, tem que ter os seus predicados”, ratifica.

Como se faz isso na atenção primária no viés da saúde populacional? Ao lançar a questão, Harzheim reiterou que é fundamental ter o conhecimento da população e disse que, ao chegar no Ministério da Saúde, 87 milhões de brasileiros estavam cadastrados no programa Saúde da Família, quando se deveria ter 140 milhões. “Depois de termos cadastrado a população [em meio digital], classificando os riscos e intervindo sobre eles, temos também que monitorar esses pacientes, porque doença crônica tem o problema da adesão. Chegar ao diagnóstico nem é o maior problema, mas sem tecnologia e sem o uso de ferramentas de telemedicina, não se consegue fazer esse tipo de monitoramento”, salienta.

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